Por
que falamos tanto?
Que
aflitivo é falar.
Através
da fala, tentamos nos comunicar com aqueles que nos cercam, desde desconhecidos
até pessoas que amamos. Com os estranhos é menos difícil, basta que a distância
se mantenha. Os sentimentos não se infiltram no diálogo. Quanto custa? Xis.
Este lugar está vago? Não. Onde fica a rua tal? Seguindo reto, terceira à
direita.
Mas
é só haver alguma intimidade, mínima ou máxima, para que as conversas se
desenvolvam através de frases entrecortadas, de subentendidos e de resumos que
nunca atingem a exatidão do que queremos dizer.
Pobres
de nós. Nós, que somos povoados por fantasias, atrações, pavores, carências,
entusiasmos, tudo tão, tão indizível. No entanto, é imperativo se comunicar, e
lá vamos nós, impulsionados por expressões que vêm à mente sem nenhum rigor,
sem nenhuma poesia, às vezes até sem nenhum sentido. São tantas as palavras à
nossa disposição, tantas. E, ao mesmo tempo, tão poucas. Como não falhar diante
das tentativas de oralidade?
Eu
não quis dizer isso (mas ao mesmo tempo, quis). Não é isso que sinto (mas um
pouco, é). Eu estava brincando (mas no fundo, não).
É
angustiante estar à mercê de mal-entendidos e de tudo que tentamos expressar
com alguma sensatez, mas que soa tão bobo diante da grandiosidade da nossa
emoção. Quais são as palavras certas? Existem palavras certas? Como é que eu me
traduzo? Como traduzo o humano em mim?
Não
basta eu estar presente. É preciso que eu me manifeste, que eu opine, que eu
responda às perguntas, mesmo as automáticas, principalmente elas. Eu não sei
como verbalizar meus medos, não sei como dar voz à criança que ainda sou, não
sei como reagir diante de uma ironia, não sei pedir para que os outros se calem
para que eu me escute. Tudo tem um som: nossa tristeza, nossa excitação, nossa
respiração, nossa dor. Mas insistimos em falar, em ser mais eloquentes do que o
silêncio. Viver é uma tarefa para gigantes, não para seres frágeis como nós.
Eu
não estou escrevendo esta crônica sozinha. Toda essa divagação foi inspirada
pela peça Os Realistas, que está em cartaz no Rio – se você passar por lá,
programe-se. No palco, quatro atores espetaculares, que honram o teatro com T
maiúsculo. Debora Bloch, Emilio de Mello, Mariana Lima e Fernando Eiras são os
quatro protagonistas que interpretam nossa grandeza e nossa pequeneza, esse antagonismo
que nos constitui e que nos exaspera. Como fazer para que o tanto que somos
(tão dúbios, tão sensíveis, tão bem-intencionados, tão confusos) encontre
correspondência no tanto que articulamos (tão verborrágicos, tão sedutores, tão
ríspidos, tão enrolados)? Na maioria das vezes, estamos apenas falando por
falar.
Não
estará mais do que na hora de nos aquietar?
Jornal Zero Hora - 20 janeiro 2016
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